quinta-feira, 18 de novembro de 2010

A Figura do Índio na Literatura

Nas mídias como o rádio, o jornal e a televisão vêm instrumentalizado uma
violência simbólica, com os livros a literatura sempre se teve uma idéia de resistência.
Porque sempre se imaginou que na literatura teria uma autonomia em relação aos valores dominantes. O índio na literatura sempre foi descrito pela visão (e versão) do outro, pergunto em que medida a literatura contribuiu ou resistiu para a base desta destruição? A literatura a partir do momento que só coloca a visão do outro (não índio) esta sendo uma contribuição nas produções de destruição do índio. A literatura passa a ser uma ferramenta primordial, pois passa de um modo despercebido, ela entra na cultura das pessoas.
Essas produções do índio dão inicio pelos os árcades, Basílio da gama que via
o índio como “homem natural” e Santa Rita Girão que os via como “o comedores de carne humana” que “só o cristianismo salvaria”, visão limitada de primitivos e selvagens. Com Indianismo um estilo literário que buscava uma identidade nacional vai-se aprofundar no índio como tema, que então é recriado é um índio que passa a ser bem visto pois, é um índio idealizado e dotado de qualidades como coragem, honra etc.
Este estilo (indianista} se adequou a chamada “poesia romântica” que se valia da natureza, da história, de cenas e costumes nacionais, seus principais autores foram Gonçalves Dias e Jose de Alencar.

Gonçalves Dias escritor romântico da primeira fase usou de impressões que
guardara dos nativos com o contato que teve na sua infância. A visão que ele dá mais próximo da realidade do índio esta ligando aos costumes. Assim como os europeus buscavam suas origens da nacionalidade na literatura, Gonçalves Dias também vai buscar tendo por referencia a visão do europeu em relação ao índio, redescobrindo o índio uma raça que estava adormecida pela tradição que é revivida mesclada ao culto de bom selvagem. As situações desenvolvidas como gestos heróicos e trágicos têm na sua forma reflexos de epopéia, das tragédias clássicas dos romances de cavalarias medievais, ou seja, não houve uma identidade, mas uma reprodução dos valores do outro. Suas principais obras indianistas são os livros Juca Pirama, Marabá e Leito de Folhas Verdes, seu índio é muito idealizado e moldado com sentimentos de bravura e de louvor à honra características que reflete pensamentos de um mundo ocidental, a de um herói cavalheiro medieval.

Jose de Alencar alem de grade escritor foi também um grande ideólogo, deixou
varias obras consideradas riquezas de nossa Literatura e de nossa cultura. O índio de Jose de Alencar vai desempenhar um papel fundamental na cultura dos brasileiros,porque o índio dele entra em intima comunhão com o colonizador, ou seja, tudo se passa como se o índio e os portugueses participassem do mesmo projeto. Como se os índios estivessem as esperas do colonizador para serem educados e civilizados, produzindo um “índio bom” que é aquele que já assume sua condição de inferioridade perante aos brancos, por exemplo, em “Iracema” a bela índia chega a lutar contra sua própria tribo para proteger seu amor (Martin Soares Moreno), ela deixa sua cultura para viver com o outro é como disse Machado de Assis uma “doce escravidão” uma escravidão voluntária. Em “O Guarani” Peri (versão masculina de Iracema) é cheio de
qualidades que são do mundo “civilizado”, ele sai da sua tribo aprende português, tornase cristão para viver entre os civilizados ao lado de sua amada Ceci. Segundo Jean Marcel C. França “ Peri e Iracema são índio de “alma branca”; seu encontro com o colonizador só é possível porque eles têm consciência de sua inferioridade e respeitam a hierarquia quando se unem ao branco. Considerando que estamos sobre a égide de raça,Peri e Iracema não podendo “branquear” o corpo, se dispõem a uma espécie de “branqueamento cultural” e com isso se habilitam à união com o colonizador, contribuindo para a formação de uma nação mestiça, que se quer cada dia mais branca”.
No livro de Iracema ele compara a índia com a natureza, uma natureza virgem
que ao se tocada morreria, em determinada parte do livro Iracema que não podia ter a flor de seu corpo violada “torna-se esposa” de Martin ao dá-lhe o vinho de tupã que provoca alucinações a pedido do mesmo por não resisti-la queria possui-la pelo menos em sua imaginação, ele a possuiu inconscientemente Alencar compara esta situação à destruição da floresta virgem dando a entender que foi feita inconsciente e inconseqüente pelos portugueses. Em sua prosa romântica não se fala das condições do índio e nem da violência do colonizador para com os indígenas, quando se fala em violência é em relação aos conflitos causados pela ferocidade dos índios. Estas produções levam-nos a crer numa imagem ridicularizada dos índios de que são
selvagens (semelhaça muito próxima dos animais) e primitivos por não terem
desenvolvido avanços em termos de tecnologia, de preguiçosos pela ideologia de defesa do trabalho, de que o trabalho dignifica , de que trabalho é o veiculo de ascensão. No livro de Darcy Ribeiro, “O Povo Brasileiro” ele mostra esta diferença de visão entre índios e civilização colonizadora: “Aos olhos dos recém chegados, aquela indiada louçã, de encher os olhos só pelo prazer de vê-los, aos homens e às mulheres, com seus corpos de flor, tinham um defeito capital: eram vadios, vivendo uma vida inútil e sem graça. Que é que produziam? Nada. Viviam suas fúteis vidas fartas, como se neste mundo só
lhes coubesse viver.
Aos olhos dos índios, os oriundos do mar oceano pareciam aflitos demais. Por
que se afanavam tanto em seus fazimentos? Por que acumulavam tudo, gostando mais de tomar e reter do que dar, intercambiar? Sua sofreguidão seria inverossímil se não fosse tão visível no empenho de juntar toras de pau vermelho como se estivessem condenados, para sobreviver, a alcança-las e embarcá-las incansavelmente? Temiam eles, acaso, que as florestas fossem acabar e, com elas, as aves e as caças?”. Só enxergados do ponto de vista do colonizador, porque só tivemos o ponto de vista deles na nossa literatura e em nossas mídias. Pra uma melhor busca de informação do índio faz se necessário uma reavaliação de nossos valores, para poder dai conseguir enxergar com olhos que não façam um pré-conceito do que está sendo visto. Com o Modernismo busca-se uma verdadeira identidade nacional, quebrando e fazendo critica aos valores antes usados. Eles não buscam mais da referencia do europeu para falar do índio e de nossos país, vão buscar por referencia a visão do índio.
Buscando a verdadeira cultura brasileira sem influencias de seu colonizador. Mário de Andrade grande escritor modernista revoluciona a literatura com o livro “Macunaíma” que é uma rapsódia (soma de temas tiradas do povo}, em seu livro ele faz uma bem organizada cópia de vários outros livros, misturando crenças populares, com customes dos povos indígenas, pensamentos filosóficos e realidades capitalistas. Mário diz que “Não tem senão dois capítulos meus o resto são lendas aproveitadas com deformação ou sem elas.”(Mário de Andrade in: “a lição do amigo”}.Ao colocar Macunaíma como “um
herói sem caráter” ele quer dizer que o povo brasileiro é um povo sem caráter, mas este caráter não quer dizer na conotação moral, mas na cultural afirmando que não tivemos nossas características em nossa cultura sofremos influencias de nossos colonizadores. E em seu livro ele usa de influências de Johann Gottfried Herder e Oswald Spengler no que diz respeito à teoria das culturas, para dai explicar e buscar nossa identidade cultural. Na teoria de Spengle não existe histórias universais e somente aqueles povos que possuirem uma verdadeira história é que conseguiram desenvolver uma cultura sólida sem ou com uma infima interferência de outras culturas, uma hisória nacional.
No livro Macuníma o protagonista de mesmo nome sofre uma degradação cultural quando sai da floresta para São Paulo, lá ele perde sua identidade torna-se outro, ele é seduzido pelas novidades trazidas do estrangeiro para capital ao qual o leva a sua própria destruição. Mário de Andrade faz uma comparação com o povo brasileiro que foi fraco assim como Macunaíma. Interessado em zoofonia, Andrade usa da junção das duas linguas, português e tupi, para criar um traço divisão de nossa identidade cultural com a frase “ai que preguiça”. A palavra “ai” no tupi é o nome do animal que conhecemos por preguiça e também é o som que ele emite. Já no português este bicho recebe esse nome pelo seu jeito lento. O que sugerindo inicialmente uma interpretação negativa de que Macunaíma é um vadio e preguiçoso e outra da quebra de valores capitalista, uma preocupação de um padão linguistico que expressasse a identidade cultural brasileira. Em Macunaíma faz comparações com o livro Iracema, por exemplo, as personagens Ci e Iracema apresentam a semelhança de se perfumarem “ Ci aromava tanto que Macunaíma tinha tonteiras de moleza” ( Macunaíma - 1928). “Todas as noites a esposa perfumava seu corpo e alva rede, para que o amor do guerreiro se deleitasse
nela. A rede de cabelos que torna a mãe do mato inesquecível, e é uma rede que Iracema oferece ao guerreiro branco...” O intuito destas semelhanças é fazer critica aos estilos literários anteriores.
Com o modernismo iniciou-se uma resistência, que teve continuidade com
escritores como Darcy Ribeiro, antropólogo, professor e romancista que dedicou boa parte da sua vida ao estudo dos índios, suas principais obras foram Maíra (1976), O Mulo (1981), Utopia Selvagem(1982), Os Índios e a Civilização(1970), Uira sai, à procura de Deus(1974), Migo(1988) e O Povo Brasileiro- Formação e o Sentido do Brasil(1995). Darcy Ribeiro é reconhecido pelo grande educador que foi, ele pesquisou, analisou, aprofundou-se sobre o tema do índio desenvolvendo não só teorias, mas fazeres. Com sua rica experiência do convívio de dez anos com os índios, Darcy nos proporcionou uma visão inédita ao tema do índio. Além de suas obras seus maiores feitos para o povo indígena ( e brasileiro) foram: como etnólogo do Serviço de Proteção aos Índios (SPI), colaborou com a criação do Parque Nacional do Xingu, com a fundação, em 1951, do Museu do Índio, no Rio de Janeiro, foi ministro da educação no governo de Jânio Quadros entre outros feitos.
Mas apesar de vivermos atualmente em um mundo de informações as pessoas
ainda hoje sabem pouquíssimo sobre os índios e suas condições. Isso se deve as violências simbólicas a qual sofremos diariamente nas mídias, e só com uma busca de pesquisas em livros como “O Povo Brasileiro” de Darcy Ribeiro, com muitas analises e reflexões de nossos valores, poderemos enxergar as reais condições, ou seja, é necessário buscar as causas dessas condições de formação desta figura indígena. Qual o intuito destas produções? Tornar o Índio insignificante para as pessoas ao ponto de ocultar algo mais importante que é o grande genocídio que este povo sofreu e sofre culturalmente ainda hoje. O povo indígena é um povo sem voz, que até o presente momento não pode ter sua versão na literatura (um livro escrito por um índio), não aparece nas mídias, não há espaço porque não é interessante para os dominantes, há uma censura segundo Pierre Bourdieu à limitação de tempo e assunto impostos é censura e poucas foram as vezes em que um índio apareceu, por exemplo no canal da Verdes Mares no ano de 2005 em abril na semana do índio exibiram uma reportagem ao qual comemoravam fazendo uma grande tapioca para os índios Tapeba, assunto imposto foi da comemoração do índio, um índio falou algumas palavras de agradecimentos pela comemoração.
 

Bibliografia:
Gonçalves Dias, Professor Reneval S. De Azevedo.
Macunaíma,Teoria Histórica do Brasil, Camila Ferreira da Silva, Biblioteca Virtual.
Mario de Andrade e a Construção da Cultura Brasileira, Walter Castelli junior.
O Bom e Mal Selvagem, Jean Marcel C. França.
Iracema de Jose de Alencar, Frederico Barbosa e Sylmara Beletti.

Macunaíma, Mario de Andrade, 1928.
Iracema, José de Alencar, 1865.
O Povo Brasileiro - Formação e o Sentido do Brasil, Darcy Ribeiro, 1995.

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